Relato de Parto
Naquele momento eu parei de ter medo das dores. Gritei feito bicho. E acho que não só o hospital, mas a rua inteira, deve ter me ouvido.
Por luhallak
25 de maio de 2024
Eu estava com 36 semanas e 4 dias quando tive a primeira contração (mesmo que na hora eu ainda não soubesse nomear o que era).
Foi na madrugada de quinta pra sexta que eu senti essa fisgada na lombar que me causou muito mau estar e me deixou meio fraca. Isso me fez desmarcar um dos meus compromissos daquele dia, que era meu primeiro encontro com a minha enfermeira obstetra.
Eu resolvi desmarcar porque estava me sentindo mal, mas eu não saberia muito bem explicar pra ela o que eu estava sentindo, afinal eu nunca tinha sentido aquilo antes. Mas como mais tarde eu teria uma consulta com minha médica, talvez eu tivesse um diagnóstico.
Fizemos exame de toque: 1cm de dilatação e ela já sentia o colo do meu útero bem macio. Lembro dela dizer: “Esse neném precisa esperar mais uns três dias para não nascer pré maturo.” Santa boca!
Eu saí do seu consultório um tanto quanto desnorteada, derramei uma lágrima e o Lucas, meu companheiro, me levou pra tomar um Milk Shake na esquina do consultório médico. E foi lá que, finalmente, conheci minha enfermeira.
Na sexta fira eu senti poucas dores. Minha família veio comer uma pizza comigo no fim do dia e eu tive uma noite relativamente tranquila até as 3:30 da manhã, quando acordei com a cama molhada.
Sábado de manhã fui até a Santa Casa falar com a a médica, mas não, ainda não era a bolsa rompendo. E sim, eu ainda estava com 1cm de dilatação.
Sábado: 36 semanas e 5 dias: Estava um dia lindo e eu e Lucas discutíamos se íamos pro clube ou não.
Eu já estava sentindo dores mais frequentes: Agora a fisgada na lombar irradiava pra barriga e eu percebia ela enrijecendo. Isso acontecia pelo menos 1x a cada meia hora e durava uns 5 minutos. Toda vez que ela vinha, eu me curvava de tanto desconforto.
Eu queria sair de casa pra distrair da dor, mas me imaginei fazendo essa posição esquisita na frente de tantas pessoas e me desencorajei rapidamente. Ao invés disso resolvi fazer um bolo e ficar curtindo meu trabalho de parto em casa.
Nesse dia eu comi bastante (ah, e também evacuei bastante, rs!). Parecia estar me limpando e guardando energia pra maratona que estava por vir.
Eu e Lucas passamos o dia na cama conversando, namorando e esperando que as dores ficassem intensas pra ligar pra enfermeira - O que aconteceu por volta das 21:00, quando minhas contrações estavam com intervalos de, no máximo, 3 minutos e o Lucas já tinha assumido meu whatsapp pra conversar com ela e com minha doula.
Nesse momento eu já sentia dores há mais ou menos 12 horas e estávamos super esperançosos. Mas quando fizemos o exame de toque eu descobri que estava com somente 3cm de dilatação, pelo meu bem, decidimos nunca mais o fazer.
E a partir daí, eu já não estava mais "curtindo" minhas dores. Comecei a necessitar de massagens, compressa de água quente, banho morno e música pra relaxar. Como se relaxar fosse algo possível naquela altura do campeonato.
O dia clareou. Era domingo e eu já estava com 36 semanas e 6 dias.
Minha médica ligou de manhãzinha pedindo pra que eu fosse pra Santa Casa. Com o risco do neném nascer pré maturo, eu teria que me assegurar com antibiótico: E lá fomos nós!
Não sei explicar, mas, mesmo já em fase ativa, eu achava que aquilo não teria fim e eu não daria conta. Aquele último exame de toque, depois de tanta dor e pouca dilatação, me abalou muito emocionalmente.
Cheguei na Santa Casa e tive o reforço que eu precisava: Minha irmã, minha querida e amada irmã, estava lá me esperando. Ela estava emocionada e me disse, olhando nos meus olhos, o quanto eu era forte. Levou pra mim as minhas panquecas preferidas e subiu até o quarto com a gente.
Preciso dizer que isso não estava nem um pouco nos planos. Eu não queria minha família lá. Sabia que aquilo seria desconfortável pra ela e pra minha mãe. Mas, no fim das contas, ela acabou sendo uma ótima companhia pra todo mundo. Às vezes até me fazia rir entre as brechas de 1 segundo que eu tinha entre uma contração e outra.
Ela ficou lá por 12 horas, até que precisou sair e trouxe minha mãe no lugar. Se eu posso dizer algo sobre isso, é que aquilo foi uma péssima ideia.
Não sei direito o que aconteceu no domingo, estava na famosa “partolândia”. Mas lembro de sentir dor, muita dor (uau!), de não querer sair do chuveiro, quase alagar o banheiro e putz, me lembro MUITO do meu companheiro.
O Lucas não saía do meu lado. Respirava comigo como se fôssemos uma mesma pessoa e olhava fixamente pros meus olhos me passando toda confiança do mundo. Eu disse inúmeras vezes que não iria aguentar, e inúmeras vezes ele me lembrou de todo o processo, todo estudo e toda preparação que tivemos pra estar ali. Estava tudo bem, estavam todos ali por mim.
Minha doula me lembrava de relaxar, minha mãe tentava me alimentar (eu dava uma mordida em qualquer coisa e cuspia o resto no chão, rs). E minha enfermeira, a cada monitoramento, mostrava que o coração do meu filho ficava cada vez mais forte, mas que minhas contrações vinham perdendo o ritmo.
Às 6 horas da manhã de segunda feira, eu implorei por uma cesárea. Depois de três dias aguentando aquela dor, o meu corpo estava exausto.
Eu tentava dormir entre uma contração e outra mas eu só tinha 5 segundos pra isso. E, sinceramente, era mais pra um delírio do que eu descanso e eu já estava há horas com um acesso de ocitocina que atenuava minha dor mas não ritmava minhas contrações.
Eu fechava os olhos e me perguntava porquê diabos eu estava num hospital que não tinha analgesia.
Como tudo na minha vida acontece pela lei da atração, às 7 horas da manhã, a minha médica chegou me propondo uma Ráqui baixa pra que eu pudesse descansar um pouco. E foi aí que eu tive um pouco de paz.
Consegui dormir por 1 hora pra recuperar minhas forças. Anestesiada, sem ocitocina, com um soro glicosado na veia. Minha mãe segurava minha mão de um lado e o Lucas do outro. Tentando me dar o resto da força que eles tinham.
Acordei renovada, bem humorada e consegui até fazer umas piadas por 30 minutos, até voltarem as minhas dores. E dessa vez elas vieram com tudo.Minha mãe, que não aguentava mais me ver “sofrendo”, decidiu ir embora. e eu, que parei de ter medo de ver minha mãe me vendo sofrer, decidi me entregar.
Naquele momento eu parei de ter medo das dores. Gritei feito bicho. E acho que não só o hospital, mas a rua inteira, deve ter me ouvido.
Precisei de 1 hora e meia pra entrar na fase de transição. fui pra debaixo do chuveiro (mais uma vez!) e esperei o expulsivo vir. Dessa vez fiz tanta força que até evacuei. E a cada contração final que vinha, eu mentalizava meu bebê descendo.
Eu sofri tanto durante todo o meu trabalho de parto, que meu expulsivo foi de uma vez. E o tão temido circulo de fogo, me causou um prazer imensurável.
A cabecinha do meu bebê saiu e eu gritei “ai que gostoso”. Ainda olhando pra cima, eu imaginei um menininho.
Ian estava lá: Super saudável e incrivelmente lindo.
Ela pro colo do pai e logo depois pro meu. Eu olhava pra ele e não acreditava que eu tinha dado a luz daquela forma. Só sabia agradecer.
Depois disso, ficamos imersos numa atmosfera de ocitocina. Nós três. Nesse momento, eu ressignifiquei toda aquela dor. Eu renasci! 🤍