Eu tinha mais ou menos 15 anos, quando o meu melhor amigo (que depois virou um grande amor) apontou para “Nutrição” na lista de cursos da Universidade que visitaríamos naquele final de semana.
“Nutrição” - falei em voz alta.
Eu nunca tinha pensando muito bem sobre o que eu faria da vida. Até aquele momento eu pensava em garotos. Sofria de amores, escrevia poemas e canções. Colocava música triste para me desaguar em lágrimas.
Chorava na mesma intensidade em que eu ria. Amava livros de romance e fazia questão de ser a protagonista das cenas dramáticas que apresentávamos na escola.
Eu gostava de aparecer. Gostava de ser a cabeça criativa e pensante por trás de um trabalho bem feito. Gostava de achar que eu era a responsável por mudar alguma coisa dentro de alguma bolha. Gostava de ser vista. Gostava de sonhar acordada.
Acho que eu poderia ser definida assim.
Por mais que agora seja um pouco diferente e os motivos sejam outros: Não existem mais “garotos” (no plural), não existe mais escola, não existe mais a liberdade de poder me fantasiar de qualquer coisa para poder me expressar quando eu bem entender.
Agora eu tenho O garoto: meu filho. Meu lindo filho.
Agora existe a empresa, minha própria empresa, e muitas vezes eu tenho tanta liberdade que nem sei o que fazer a respeito.
Tudo é muito meu enquanto tudo é meio rígido. A intensidade ainda opera, mas as emoções estão meio contidas lá dentro, junto com a ansiedade que hoje é controlada por um medicamento.
Mas ainda existe o sonho de mudar. De me mudar. De mudar o outro. Para que o outro mude o outro, e assim possamos mudar o mundo.
E foi essa sarna que me fez olhar para o vigésimo oitavo curso da lista da Universidade de Viçosa (a primeira universidade que coloquei meus pés) e falar: É isso.
Foi pela vontade de mudar o mundo e as pessoas. Pela vontade de fazer com que, quem passasse por mim, levasse um pouquinho de mim. Pela vontade de me relacionar, de ouvir histórias (agora reais) e ter uma troca (bem dramática) com as pessoas.
E foi assim que eu decidi fazer nutrição.
Mas não foi assim que eu entrei. Eu não aprecio uma entrada sem luta. Eu precisei passar por cima, abdicar, fazer o que meus pais mandaram, ver meu pai morrer diante dos meus olhos e recomeçar. Nesse recomeço eu me perdi, enfrentei familiares, uma outra faculdade e uma depressão. Tudo ao mesmo tempo.
Tudo que só serviu pra eu ter certeza do que eu queria, do que eu sabia, do que eu sonhava. Tudo pra deixar a chegada mais esperada e mais gostosa.
E quando eu cheguei lá, eu não precisei de muito esforço, eu só fui. E simplesmente peguei o que era meu.